O post de ontem falava da minha porteira fechada para temporários e novos moradores aqui em casa. E esse é um assunto delicado mesmo, qual é a hora certa de parar?
Talvez eu devesse ter parado a mais tempo, mas os “problemáticos” caíram na minha mão e acabaram encalhando. Eu sabia que isso poderia acontecer quando os acolhi e não me preocupei. Sabia do risco e estava pagando para ver.
Foi assim quando acolhi a Camille e o Mel. Ele com gengivite, problemas de adaptação e relacionamento com humanos. Ele é ótimo, mas muito medroso. Morou muito tempo na rua, chegou muito assustado e corria o risco de ser devolvido ou pior, abandonado novamente. Sempre tive muita preocupação com ele por causa disso. Mas ele até que teve sorte, tem duas madrinhas apaixonadas por ele, que são presentes na vidinha dele. E ele já entendeu que quando elas vêm aqui é para visitá-lo e ele esperto, adora se exibir jogando bolinhas e brincando com ratinhos, todo lindo!
Ela escama, pelagem que as pessoas não gostam. Perguntam se é doença, sarna, se "é assim meesmo". A Camille ficou anunciada por um ano, mas ninguém nunca perguntou nada dela. Ela não teve nenhuma pessoa interessada. E como eu já esperava, só tornei oficial o que já acontecia de fato, adotei a Camille.
Depois eu resolvi trazer a Brigitte para fazer o tratamento aqui em casa. Nós duas temos uma história de amor desde o primeiro momento que nos vimos e eu sabia que seria difícil devolvê-la ou doá-la. Mas a possibilidade existia. Só que com o tempo eu vi que era impossível abrir mão da Brigitte. Ela realmente é louca por mim. As pessoas percebem isso quando vêm aqui. Ela me segue pela casa, tem muito ciúme de mim, está sempre me olhando e se eu não vou na hora que ela me chama faz uma cara de triste de cortar o coração!
A Wylla conseguiu uma adotante logo que chegou aqui, o que realmente me deu uma certa tranqüilidade. Sei que ela vai embora e no início nem queria gostar dela. Eu pensava vou cuidar dela como se fosse minha, mas não quero gostar. Sei lá, acho que era medo. Hoje eu sei que gosto dela como dos outros. Se ela encalhasse aqui em casa seria minha, nunca iria abandoná-la. Mas ela vai ter uma casa, com uma família ótima e vai ter uma vida feliz! E eu sei que fiz a minha parte, cuidei quando ela precisou e fui a ponte para ela encontrar uma mãe maravilhosa!
E o Sebastian, último morador da casa, é uma adoção conjunta, se é que isso existe. Ele é o xodó da Kika e uma gatinho carente, que pede colo, adora dançar e fica seguindo a gente pela casa, por isso ele era chamado de Shadow. Lá no sítio a Kika só podia dar atenção a ele nos finais de semana e ela achava isso pouco, que ele merecia mais atenção. Na minha última visita ao sítio reparei que ele estava com o olhinho lacrimejando muito e com uma baba na boquinha. Então falei com ela ia trazê-lo para levar na vet. Ele foi examinado, testado e tratado. Ele tem gengivite e o olhinho que lacrimeja ainda é seqüela da esporotricose que deixou uma cicatriz no olho esquerdo. Ainda vamos ter que procurar um especialista para uma avaliação mais precisa do problema, mas acho que vai dar certo. Por causa da gengivite precisou fazer um tratamento de dois meses e depois do resultado do teste de Fiv/Felv negativo, eu e a Kika resolvemos que o melhor para ele seria ficar aqui em casa comigo e com ela, já que ela pode vir aqui vê-lo sempre que quiser. Assim ele tem duas mães.
Sempre que eu peguei um temporário, dizia para ele “não se preocupa, se ninguém te quiser, eu quero” e isso me deu tranqüilidade. Só que agora não posso mais fazer isso. Não tenho como falar isso para o próximo temporário. E não vou conseguir olhar nos olhos de um gato que já foi abandonado uma vez e não ter certeza do que vai acontecer com ele. Por isso, resolvi que não pego mais nenhum, por tempo indeterminado.
Sei que tem gente que vai atirar pedra, mas cada um sabe da sua vida e eu sei da minha.
Tem muito animal precisando de ajuda e eu já tirei 9 da rua ou de abrigo, abrindo espaço para outros. Sem contar os que passaram por aqui e foram adotados. Acho que a minha parte está bem feita. Se cada um fizesse um pouco, a situação do abandono não seria tão triste!
Continuo ajudando a Kika com outras coisas da ONG, o que não falta é trabalho! Mas lar temporário, porteira fechada!